I would rather be with trees than in the middle of noisy streets...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Cinza


 
Eu nunca gostei dessa cor, cinza. Ela é a cor que não é. Não é preto nem branco, é um misto, mas não é. Simplesmente não é.  É uma cor tediosa, que me deixa aborrecida. A cor das paredes do meu quarto é acinzentada. Mas não é cinza porque eu quis, ou porque ninguém quis. Na verdade é cinza porque ninguém quer. Por descuido mesmo. E talvez por causa disso eu tenha associado o cinza ao descuido. E ao gás, apesar de gás ser incolor, talvez seja por causa da fumaça que é cinza, ou das nuvens carregadas de chuva que também são cinza. O concreto é cinza. Prédios sem pintura são cinza, e eu odeio prédios. Uns outros pintados também são pintados de cinza, curiosamente. Jornais são cinza (e cheiram mal). Cinza é a cor da ação do tempo sobre os papéis e fotografias. Cinza é a cor da dor de cabeça, pelo menos da minha. Cinza é a cor do bonequinho do MSN quando alguém com quem você gostaria de conversar está offline. Você já sentiu uma cor? Eu sinto cinza quando estou triste, vazia ou sozinha. Ultimamente eu tenho sentido o cinza. É assim: eu estou no meu quarto, e de repente começo a sentir um cinza. Meus olhos ficam pesados, e eu me sinto muito cansada, então durmo. Quando acordo, parece que alguém roubou alguma coisa de dentro de mim enquanto eu dormia. Eu sinto um buraco vazio, cinza. Tudo fica meio acinzentado, assim, eu não vejo cinza, mas de alguma forma dentro da minha cabeça eu sinto que o cinza está lá. Às vezes então eu sento no meu computador procurando alguma coisa pra preencher o vazio. Assisto um filme, e o vazio não vai embora. Leio um livro. Procuro roupas novas em sites. Procuro mulheres muito mais bonitas que eu no Google, e fico olhando e um pouco chateada por não poder escolher como eu queria ser, pelo menos por fora. Jogo. Fico em redes sociais vendo a vida de pessoas que não me interessam nem um pouco, e pensando em como a vida delas talvez seja mais agitada ou divertida que a minha. Acho que ir pro computador é uma péssima alternativa pra preencher vazio. Bem, outras vezes eu não sinto direito onde é o vazio e acabo confundindo com o estômago, nesse momento por exemplo estou tentando preencher o vazio do meu cérebro com leite com Nescau, mas é inútil, nem preciso dizer. O cinza pesa no meu peito como uma rocha grande que é dessa mesma cor. Às vezes eu sinto uma falta de ar porque o cinza me lembra gás e fumaça. O cinza deixa tudo muito duro feito concreto. O cinza cai na minha cabeça como uma bigorna e quebra meu crânio e dentro dele só tem cinzas. A poeira também é cinza, como os dias que eu não tenho vivido e me tem uma textura de poeira. Cinza é o tempo que passa e me envelhece como uma fotografia indefesa. Cinza é minha sensação de abandono e meu orgulho indobrável, no tom do céu de São Paulo sem sol nem estrelas. Do nublado que simplesmente não é.

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