"E isso não porque fosse covarde ou tímido, pelo contrário, é que já há algum tempo se encontrava num estado de excitação e nervosismo parecido com o da hipocondria. Estava a tal ponto apegado ao seu quarto e afastado de todos que receava se encontrar com quem quer que fosse, e não somente com a dona da casa. (...) Mas me parece que já estou falando demais. Afinal, não faço nada mais senão falar. Embora também se pudesse dizer que, se falo, é porque não faço nada. A verdade é que este último mês me deu mania de falar enquanto fico ruminando sobre ninharias.
Na rua fazia um calor sufocante, ao qual se juntavam a aridez, os empurrões, a cal por todos os lados, os andaimes, os tijolos, o pó e o mau cheiro peculiar do verão. (...) Tudo isso provocava uma impressão bastante desagradável nos nervos do rapaz. (...) Mas não tardou para que voltasse a mergulhar numa espécie de indiferença profunda e, para sermos mais precisos, num completo alheamento de tudo, de tal maneira que caminhava sem fixar atenção à sua volta e também sem querer fixá-la."
(crime e castigo)
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