I would rather be with trees than in the middle of noisy streets...

domingo, 21 de novembro de 2010

Cartas II

lugar nenhum




Será que você entende como é um querer dizer, mas não poder? Às vezes eu fico pensando demais no que vale a pena dizer antes e acabo ficando calada, e quando digo alguma coisa me sinto mal por ter dito. Desculpa mas é como a frase que eu vi num filme uma vez, o que tá acontecendo comigo agora (não quero chamar pelo nome, o que é um nome diante de um sentimento?) é como uma montanha, quando você chega no topo qualquer movimento ou distração te derruba, e eu não quero cair vertiginosamente, essa montanha é alta demais pra eu me jogar desse jeito, e também a escalada me foi preciosa demais, ainda que tenha sido assim tão distraída, eu não te percebi entrando na minha vida e sei que não era intenção, ou talvez fosse mas eu fui inocente demais pra considerar que alguém planeje uma coisa que tenha acontecido dessa forma, aos poucos suas palavras ficaram mais interessantes que as dos outros, aos poucos sua opinião era parecida demais com a minha, de repente eu me atrapalhava quando você chegava, de repente te procurava demais em todo lugar quase como se você fosse onipresente, de repente uma frase sua me custava a concentração de um dia inteiro, e tudo o que eu dizia tinha que ser pensado tantas vezes que as coisas ficavam diferentes, só pra mim, eu queria ter o controle portanto se era diferente não era importante, mas era um esforço pra manter que eu talvez não pudesse agüentar, mas o que mais eu poderia fazer? Agüento mas não sei quanto tempo, e o tempo agora me assusta como nunca, também já não sei se devo culpar o tempo, sua personalidade, os outros, a quem eu vou culpar caso você mude de idéia de repente? O tempo, você, eu? E como eu vou admitir o quanto eu sofreria com essa perda? Porque logo eu, que te fiz tanto discurso! Que disse que não queria, que não podia, que eu era incapaz dessas coisas e você me dizendo que um dia quando acontecesse eu ia entender, olha eu não entendo, e realmente penso todos os dias em qual é o propósito de construir mais uma vez uma coisa que funciona tipo um regime socialista: primeiro é utópico, depois frágil, e depois trai completamente os próprios princípios. Como vou prosseguir com uma coisa que não vai me levar a lugar nenhum? Você não faz idéia de como eu me sinto mal por me achar tão (...), e o pior é que ao mesmo tempo em que me sinto mal, quando eu olho pra um pôr do sol eu acho lindo como nunca e quando eu vejo as árvores, as árvores que eu tanto gosto ficaram muito mais lindas agora que eu vejo nelas a cor dos seus olhos agora tudo é mais intenso um cheiro que antes era só ‘bom’ agora é ‘muito bom’ uma coisa que era ‘bonita’ agora é ‘muito bonita’ uma música que tocava meu coração agora toca em triplo e eu enxergo melhor sinto melhor você não tem idéia e essa incerteza que é saber se você também ficou assim ou não se você também fica com o ritmo cardíaco alterado e que decepção quando eu descubro que você é simplesmente assim e era só mais uma coisa que eu queria ver, sabe quando às vezes as coisas não são exatamente como a gente quer, mas dentro da nossa cabeça qualquer detalhe nos faz começar a supor uma situação que é exatamente como a gente queria, e a gente acredita nelas com tanta força que leva um tapa na cara quando vê que não era verdade? Você não faz idéia do quanto eu ouço que não posso acreditar em você, olha eu luto e não consigo deixar de acreditar, é igual a filme de terror que a gente sabe que não é verdade, mas sente medo mesmo assim. Às vezes eu só queria dizer pra alguém que pudesse me dizer o que fazer, mas aí eu penso, fazer o quê, o que tem pra ser feito? Como se pode fazer alguma coisa senão continuar vivendo pra cair de cara no chão mais tarde? Como vou viver uma coisa que nem tenho coragem de viver? Como vou insistir se não tenho fé nenhuma? Pra que continuar o que não tem onde chegar, ou que eu não tenho coragem de saber onde chega? Eu sinto essa vontade enorme de correr e de apagar tudo isso que tem acontecido, se eu pudesse voltar naquele dia e desfazer tudo jamais pensaria duas vezes, babe. E você entende, agora entende que é por me ser assim, dolorido-colorido (e dolorido na maior parte do tempo...) que eu te fujo tanto?

Um comentário:

  1. Você não faz idéia de como eu me sinto mal por me achar tão (...)...

    Tão apaixonada!

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