I would rather be with trees than in the middle of noisy streets...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sonhos



Esse texto começa sem nexo, de uma observação antiga. O que eu vejo ao meu redor são pessoas que dependem de outras pra que seus sonhos se realizem. Na verdade, elas depositam no outro não apenas a sua felicidade, mas todos os seus sonhos estão vinculados ao outro. Tenho uma amiga que não tem sonhos. Em contrapartida, seu namorado sonha alto, é ambicioso e se dedica totalmente a chegar onde quer. Dessa forma, o único sonho da menina é servir ao namorado e aceitar todos os sonhos dele como seus. Os sonhos delas são pesados. Dependem da vontade do outro, e não somente da dela.
Os meus sonhos são leves. São sonhos solitários. Solitários não, porque essa palavra é um adjetivo triste. São sonhos que independem de qualquer pessoa que não eu pra existir. O meu primeiro sonho foi ser independente. Pra começar, o casamento dos meus pais nunca deu muito certo. Então sempre ouvi da minha mãe que deveria trabalhar pra não depender de ninguém. Cresci com esse pensamento e nunca tive desejo de casar, achar um grande amor. Os meus irmãos e eu nunca fomos unidos, então eu gostava mesmo era de ficar sozinha. Isso me trouxe um grande horror à família. Gosto de pessoas com família desestruturada e me irrito com gente que tem família perfeita. Não sei se é por inveja ou porque acho que o normal é ter uma família como a minha mesmo. Eu me decepcionei muito com meu pai e ele me fez ter uma imagem de que homens são todos uns bastardos. Então eu sempre gostei muito de mulheres.
Meu primeiro sonho foi não me casar. O segundo, ser independente. Depois eu quis morar sozinha. Por um tempo sonhei em morar na Califórnia, mas hoje em dia não sinto vontade nem de conhecer esse lugar. Eu era católica, um pouco fervorosa. Tive um namoradinho e traí ele. Daí pensei que ia pro inferno e que eu teria que casar com ele. Por um tempo isso foi um objetivo. Um sonho acho que nunca. Eu comecei a me decepcionar com a religião estudando história na escola. Depois eu li uns livros de ateístas e desisti de vez. De vez em quando sinto um medo do que vai acontecer depois que morrer, mas não tem problema, pelo menos todo mundo que conheço vai morrrer, como eu, até a Angelina Jolie. Isso me fez desapegar um pouco da vida, de não achar tão ruim não ser linda, rica, perfeita, famosa, esse tipo de coisa.
Dos outros sonhos agora não me lembro a ordem. Primeiro eu quis salvar o mundo. Depois descobri que não posso fazer isso sozinha, e que não importa o que eu faça, tem sempre 50 pessoas fazendo o oposto sem a menor consciência. Eu me apaixonei pela natureza talvez porque o jardim daqui de casa é muito bonito. Lia livros de wicca, uma religião derivada da religião celta, e acho que isso contribuiu bastante. Então eu quis salvar a natureza. Por algum tempo fiquei indecisa no que queria fazer no vestibular, porque por um lado eu tinha que fazer humanas, porque tinha vocação. Pelo outro eu queria muito trabalhar com qualquer coisa que envolvesse o meio ambiente. Pensei em ecologia, ciências biológicas, engenharia ambiental, mas não tive coragem de encarar a prova de química e física esse ano. Eu também já sonhei em defender as leis e trabalhar em direito familiar. Esse é um sonho extinto.
Quando era criança sonhei em ser cientista. Esse sonho persiste, um dia ainda vou ser cientista e recriar um dinossauro. Quando era criança meu pai me deu uma luneta de brinquedo, mas só dava pra ver a lua, bem de perto. Eu ficava feliz porque até isso era extremamente interessante. Meu pai também me deu um microscópio. Eu sempre quis ver uma célula, o microscópio vinha com uma formiga esquartejada num cartão de plástico que também era bem legal de ver. Quando eu me decepcionei com a religião percebi também que minha vida é curta. Aí veio o sonho de conhecer o mundo inteiro, principalmente a Europa, o Reino Unido, os países escandinavos. Aquele sonho bobinho de ver neve e Stonehenge que todo mundo deve ter. Amei a ideologia comunista por uns anos. Nunca sonhei em fazer uma revolução comunista no Brasil, mas queria me engajar na política, eu queria ver as coisas sendo diferentes. Outro sonho tolo. Quis fazer umas intervenções urbanas, fiz alguns planos de conscientização pra população e nunca me mobilizei pra fazer eles darem certo, mas eu ainda não desisti.
Quando era criança sonhava ter muitos amigos. O sonho passou a ser só que alguém me conhecesse, que pelo menos uma pessoa tivesse ideia de quem sou eu. Depois eu sonhei em ser guitarrista de uma banda, sonho que uma amiga minha alimentou mas que durou pouco porque não deu certo com as outras meninas, aí o sonho ficou só sendo aprender a tocar guitarra mesmo. Outro sonho é levar o rock pro túmulo, pra provar pra mim mesma e pros outros que rock não é fase, rebeldia, adolescência.  Junto com esse veio o sonho de fazer uma tatuagem. Um sonho antigo é ser inteligente. Sei que não me vale de nada, mas se eu pudesse saberia de tudo. Aqui em casa tinha Galileu e Superinteressante, outra coisa que me levava a querer ser cientista. Além disso, gosto de entender das leis da física, da biologia, de como funcionam as coisas. Decoro uns trechos de livros e também sei um pouco das idéias de alguns filósofos, e sou apaixonada por história, porque é uma forma de descobrir porque as coisas são como são hoje. Tudo é compreensível através da história. Desde a mentalidade fútil das pessoas (culpa do capitalismo) até o processo de a gente ter virado o único animal capaz de transformar o meio. O porquê é que ainda é uma curiosidade.
Outro sonho é fazer um Molotov. Fazer um elemento químico explodir. Quebrar uma garrafa no meio da rua. Bater em alguém. Entrar com uma metralhadora em todas as escolas que estudei (esse é um sonho meio doentio). É que eu sinto muita raiva o tempo todo. Também queria mudar a cabeça de uma pessoa alienada. Não uma especial, mas mudar a cabeça de qualquer alienado me faria muito feliz, sabe, fazer alguém enxergar a verdade. Acho que meu maior sonho é descobrir a verdade, mesmo que eu sinta um pouco de medo. A verdade é a coisa mais valorosa da existência, e qualquer fragmento dela deveria ser como alimento dos seres humanos. É a base da racionalidade, que é a base da condição de ser humano. E a base dos meus sonhos...

Um comentário:

  1. Sonhar nao eh facil, o texto ficou bom, soh acho que em algumas partes vc confundiu sonhos com objetivos.

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