"Talvez espante o leitor a franqueza com que realço e exponho minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz a consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e deixou de ser! Porque, em suma, não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos: não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e prejudicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele não se estenda pra cá, e não nos examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame e nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados."
muito muito muito bom!
ResponderExcluirBrás Cubas! :D
ResponderExcluirTô terminando agora ^^
é!!!! O post no meu blog é de Bras Cubas tambem! o livro todo é foda, eu amei!
ResponderExcluir