I would rather be with trees than in the middle of noisy streets...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Encontro




Estava caminhando à noite pela cidade, numa das ruas movimentadas, dessas onde encontramos a maior parte das pessoas que insistem que há diversão em Natal no sábado à noite. Meu tênis parece afundar numa coisa macia, e olho pra baixo. Diante de mim está um pequeno gatinho preto, desses que nos surpreendemos em como, abandonados a própria sorte desde tão pequenos, sobrevivem. Olho então bem dentro de seus olhos. Ele não se move, apenas olha, sem comoção, parece não se incomodar. Não se importa se vou o esmagar ou tirar o pé.
O gatinho trazia no olhar uma desistência, dessas que encontramos naquelas pessoas que passaram por muito tormento e sucumbiram. Um olhar triste, perdido. Olhar de quem não sabe o que se está fazendo ali, de desnorteamento. Recolhido no meio da rua, eu não o enxerguei. Observei durante um tempo: dificilmente enxergavam. Todos estavam ocupados demais com suas próprias histórias, ocupados demais pra olhar em volta e perceber o outro. Os poucos que topavam com o gatinho, crianças, eram logo afastados por suas mães, alegando sempre que o gato deveria ter alguma doença e iria lhes contaminar. Me abaixei e ele não fugiu. Devagar, toquei sua cabeça, e de leve tentei lhe dar algum consolo, como se de alguma forma, sua pequena vida frágil tivesse alguma importância pra minha. O gatinho fechou os olhos e não repeliu meu toque, poderia dizer que ele se refugiou no calor da minha mão, há quanto tempo não o tocavam? Voaram muitos minutos até que eu me desse conta, então me levantei e tornei a andar, até que o gato se pôs na minha frente e me olhou nos olhos profundamente outra vez. Ele pedia fraquinho "não me deixe", mesmo sem esperança de retorno. Lembrei de como meus pais odeiam animais de estimação... catei o gatinho e levei pra casa.

Um comentário:

  1. A gente sempre se julgou melhor que eles, os gatinhos de rua, os animais, nossos irmãos. Às vezes tenho pena por eles, por eles serem nossos irmãos! Será que não sentem vergonha?


    Que bom que você fez um blog, Amandie!
    Vou ler sempre que vc postar :D *.*
    (L)

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